sexta-feira, 11 de junho de 2010

FAZER A PONTE (Resumo)

Uma escola sem muros

A escola da Ponte é uma escola de área aberta construída por vontade dos professores, um edifício-escola que permite o desenvolvimento de uma Pedagogia orientada para uma práxis social de integração do meio na escola e da escola na vida, aliando o saber ao saber fazer. Seu horário de ensino é integral o que evita fracturas na organização do trabalho, porque não há necessidade de partilhar o espaço com grupos diferentes e lógicas de funcionamento também diferentes.
Foi abolida ou se atenuou os efeitos do mecanismo de aprovação/ reprovação, por não encontrar o sentido em uma escola em que se procura que tudo se conjugue para proporcionar uma programação flexível adequada ao progresso dos alunos ao longo do ciclo de estudo e, desde logo, uma perfeita correspondência entre progressão e progresso.
A vivência na comunidade escolar tem um caráter formativo, veiculador de valores sócias e de normas por todos assumidas e elaboradas com a participação de todos.
Na Ponte, vive-se, cultiva-se a delicadeza no trato, suavidade na voz, a afabilidade para com o colega, a disponibilidade, a atenção ao outro, a capacidade de expor e de se expor. A interajuda permanente acontece em todo o sistema de relações, a partir do exemplo dado pelo trabalho em equipe dos professores.

Repensando a escola

Na escola Pontes existem regras que são debatidas um exemplo é o quadro de direitos e deveres regulam todo o sistema de relações, mas é proposto, debatido e aprovado pela Assembléia da Escola, no início de cada ano letivo.
A organização de meios e a gestão do bem-estar são de responsabilidades coletivas, de acordo com categorias de tarefas aquém se dá o nome de responsabilidades. O cumprimento das tarefas incumbe a grupos de aluno, como por exemplo, o grupo de murais, o grupo do recreio bom, o dos responsáveis pelo material comum. De 15 em 15 dias, todos os grupos apresentam relatório com tudo o que fizeram da sua responsabilidade, durante esse tempo.
Essa escola não pode ser ainda considerada escola inclusiva, a Ponte tende para a inclusão e, neste sentido, o trabalho em grupo heterogêneo assume um papel preponderante.
O plano de estudo é o mesmo para todos os alunos, mas há adaptações no currículo de cada um, em função das suas necessidades e capacidades, nomeadamente, no nível de iniciação e no da transição. No início do dia cada aluno define o seu plano individual, que consiste em um registro de intenções sobre o que quer aprender durante o dia.
A avaliação das aprendizagens é feita quando o aluno se sente preparado para o efeito. Comunica o que aprendeu e faz prova só quando quer, quando sente que é capaz. Os professores agem como persuasores mais ou menos democráticos...
A liberdade é mitigada ainda mais pela necessidade de prestação de contas do que se faz. Com o ideal da escola que diz se cada um agisse isolado, onde estaria a idéia de projeto, onde estaria a escola? Todos convergem para os mesmo objetivos gerais, se não haveria diferentes e indiferentes escolas dentro de uma mesma escola, na Ponte, não estando os alunos divididos por turmas, os professores são professores de todos os alunos e não estão destinados a um único espaço, a um único grupo de alunos.
Ninguém tem um lugar fixo para brincar, trabalhar e aprender. Nem os professores, nem os alunos. Embora haja um horário de referencia para alunos e professores, estes não olham para o relógio, quando o que é preciso fazer-se tem de ser feito.
O rompimento com a organização tradicional da escola teve conseqüências também quanto ao repensar do serviço docente. Todos os professores da atual equipe tinham trabalhado, anteriormente, sozinhos e com turmas de 30 ou mais alunos. Todos tinham passado anos esforçados, fazendo o seu melhor dentro do que era possível, orientados por planos de aula concebidos para um hipotético aluno médio, queixando-se de não terem tempo para dar o programa.

Em nome da autonomia e da solidariedade

Na escola da Ponte, as crianças são tratadas como crianças e não como alunos. As crianças explicam o porquê de tudo o que fazem de tudo o que vive.
Na linha de Dewey, pretendeu-se centrar a aprendizagem nos interesses da criança, fomentar métodos de pesquisa e de resolução de problemas. Mas a seleção e tratamento de informação não promovem, por si só, o acesso ao conhecimento. É necessário utilizar estratégias que permitam transformar a informação em conhecimento.
As crianças desenvolvem estruturas cognitivas em um aprender, fazendo indissociável de um aprender a aprender. O aprender está relacionado com fatores emocionais e motivacionais que podem conduzir a um sentimento de realização pessoal. Considerando que a criança tem um papel ativo no ato de aprender.
Implicada em uma aprendizagem por descoberta, o professor é alguém que ajuda a resolver problemas, que estimula as crianças, que confia nas suas potencialidades. O exercício da descoberta e a aprendizagem critica permitem que o aluno aprenda a heurística da descoberta e racionalize os seus processos cognitivos, aumentando a sua autoconfiança e ascendendo em níveis elevados de autonomia. O valor da autonomia encontra a sua expressão máxima nas atividades realizadas pelas crianças.
Entre os princípios defendidos no projeto, avulta o da significação epistemológica, traduzida na construção de um conhecimento do senso comum – de que a criança é portadora à chegada à escola – e o conhecimento científico que subjaz a qualquer área cientifica.
Pela assunção do princípio da gradualidade se reconhece a necessidade da organização das atividades em uma perspectiva seqüencial e a progressiva passagem da aprendizagem dirigida pelos professores para uma aprendizagem autônoma, onde o aluno assume o papel principal na construção do conhecimento.







Memórias

Nada foi inventado na Escola da Ponte. Em um longo processo de 25 anos, os problemas geraram interrogações, as interrogações conduziram à busca de soluções. O projeto da Escola da Ponte está sempre incompleto, sempre a recomeçar.
Um projeto de escola democrática é um ato coletivo. O sucesso dos alunos depende da solidariedade exercida no seio de equipes educativas, a qual facilita a compreensão e a resolução de problemas comuns. Por isso, os professores têm um papel fundamental no atendimento aos pais. Este atendimento processa-se a qualquer hora de qualquer dia.
Quanto ao ciclo escolar a Escola da Ponte enfrentou problema junto ao Ministério da Educação que se decidiu pela transformação da escola de 1° ciclo em uma escola básica integrada (EBI 1,2,3 da Ponte), a partir do ano letivo de 2001/2002.
A associação de pais também é um parceiro indispensável. Garante o funcionamento da cantina, a realização de atividades de férias para as crianças, a aquisição de equipamentos essenciais ao desenvolvimento do projeto, mas é, sobretudo, um interlocutor sempre disponível.

Ricos e fragilidades

Do observatório da Ponte, vimos o trabalho de equipes de professores construídos ao longo de muitos anos serem destruído em escassos dias por outros que, por não estarem atentos à necessidade de elaboração da sua cultura pessoal e profissional, se mantinham cativos de uma cultura de funcionário público.
A transição entre equipes de professores, só foi possível porque os novos professores foram colocados na escola em regime de destacamento e por deliberação própria, sabendo que projeto estava a tomar em suas mãos. Só deste modo foi possível não desperdiçar 20 anos de um trabalho considerado inovador, o que poderia ter sucedido quando da aposentadoria dos seus primeiros autores.
A seleção dos candidatos é feita em função da sua adesão a um projeto. E a estabilidade requerida por verdadeiros projetos pode ser garantida pelo caráter plurianual das colocações e por uma afetiva avaliação de desempenho dos professores.
Um dos riscos que o projeto corre é se o ninho de inovação e mudança, construído à custa da dedicação e sacrifício, vão permanecer dependentes de precários destacamentos, ou a escola continuarão exposta às vicissitudes de concursos de colocação aleatórios. Outro risco advém das fragilidades da formação (inicial e não inicial) que ainda se faz.
Tendem a serem ignorados os efeitos secundários das práticas tradicionais, tão injustas como inadequadas tão avessas às transformações sociais como geradoras de exclusão escolar e social.










É necessário e, em muitos casos, urgente desenvolver processos de reajustamento profissional a novos objetivos e novas tarefas dos professores recém-integrados na carreira. O professor recém-formado é atirado, sem recursos, para o isolamento de uma sala que tem dentro um grupo de crianças. Os primeiros dias são decisivos para a instalação de rotinas que resolvem a crise inicial. O professor evoca modelos da sua experiência como aluno passa a exercer um apertado controle e uma estruturação de trabalho que anula qualquer exercício de autonomia discente anulando a sua própria autonomia, recorre ao manual que anula o professor, utiliza testes que anulam qualquer resquício de avaliação alinhada com a aprendizagem e a diversificação de processos, procura créditos que anulam a procura da formação necessária. Nos dois últimos anos, a experiência do estágio de formação contínua permitiu a criação de redes de colaboração entre professores e escola.


Disseminar ou contaminar?


A Escola da Ponte foi objetivo de múltiplas investigações, matérias para teses, artigos e livros. A Escola da Ponte apenas mostrou que há utopias realizáveis.
A Ponte é, como qualquer outro, um lugar de chegar, de ficar e de partir. Um lugar onde deliberada e intencionalmente se chega para (com outros!) fazer crianças mais felizes.

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